quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Fragmento(s)




Esperança






Tranquilidade



Fotografia: Maremfrente.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Águamar



quando ambos
são dois


beijos de água



Publicado por: Maremfrente.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal...



...e uma rosa desponta no rigor do Inverno!!


Fotografia: Maremfrente. 25.12.09

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Balada da Neve



Batem leve, levemente,
como quem chama por mim…
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente,
e a chuva não bate assim…

É talvez a ventania;
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento, com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
de uns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!
Porque padecem assim?!

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza…
 e cai no meu coração.



Augusto Gil, Luar de Janeiro, 1909.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Janela do Mar





Publicado por Maremfrente

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Confiança


O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura
E que a doçura
Que não se prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova


 
Miguel Torga
Fotografia: Maremfrente.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Melodias


Safiras flores
componho
árvores e cores
e ao peito as ponho
não sei se são sonhos
só sei que as sonho



Fotografia e texto: Maremfrente.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Impressões



Onde brisa e brilhos
Onde vagas vagueiam
Onde leves e lisos
Sem pensar passeiam
Os dias precisos


 
 
Fotografia e texto: Maremfrente.

sábado, 28 de novembro de 2009

Florbela Espanca




















Contemporânea dos dois maiores vultos do modernismo português, Florbela Espanca, filha de uma relação extramatrimonial, nascia e morria a oito de Dezembro. Entre Vila Viçosa e Matosinhos decorriam apenas, mas exactamente, trinta e seis anos. Fernando Pessoa tinha então seis anos e Mário Sá-Carneiro quatro. O primeiro viveria mais onze, o segundo menos dez. Distam-lhe destes a obra e o percurso, mas não o tempo.


(…)

Ó meu País de sonho e ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!

Quero voltar! Não sei por onde vim…
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!


O desalento nacional com o Ultimatum inglês, a crescente oposição ao regime monárquico, o regicídio, a implantação da República e suas subsequentes fragilidades trazem à sociedade civil confusão, greves e violência.
A primeira Guerra Mundial eclode e com ela a descrença no regime, depois dos resultados catastróficos para o país. Ao desejo de acalmia responderá o General Gomes da Costa e à política de reedificação do Estado, António de Oliveira Salazar, em 1933. Havia três anos que Florbela “se desligara” da vida.

(…)

Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!

Vim da moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera… quebra-me o encanto!

No meio cultural era a Renascença Portuguesa que no Porto liderava Teixeira de Pascoaes. Porém, não tardou que a Águia, também de Guerra Junqueiro, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão e Raul Proença, voasse até Lisboa. Uma vez na capital troca de asas por movimentos outros: o Modernista, em Orpheu, de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros e o racionalista de intervenção social, em Seara Nova, de António Sérgio, Raul Proença e Jaime Cortesão.
À indiferença destes, porém, excepção seja feita a Raul Proença, cuja amizade resulta em algumas publicações na Seara Nova e a quem dedica o soneto “Prince Charmant…”

(…)

E nunca O encontrei…Prince Charmant…
Como audaz cavaleiro em velhas lendas
Virá, talvez, nas névoas da manhã!

Em toda a nossa vida anda a quimera
Tecendo em frágeis dedos frágeis rendas…
- Nunca se encontra Aquele que se espera!...

Mas, afinal, a sua incessante procura tinha nascido em vão. Casa em 1913, 1921 e 1925, contudo, os seus leais confidentes acabam por ser o pai e o irmão, Apeles. A morte deste, em 1927, acelera a convergência pois, “Nesta negra cisterna em que me afundo… / Grito o teu nome numa sede estranha…”
Aos 25 anos publica o Livro de Mágoas e aos 27 o Livro de Soror Saudade. Charneca em Flor, dos seus 34 anos, resulta, postumamente, da iniciativa de Guido Battelli. São exemplo de outras a este título as Cartas de Florbela Espanca, também por Guido Battelli (1930); Juvenília (1930); As Marcas do Destino (1931); Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949); Diário do Último Ano Seguido De Um Poema Sem Título (1981); o livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro (1982)…

(…)

Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a rir dentro da minha!

08.12.1894 - 08.12.1930
             Florbela



Bibliografia:
- Espanca, Florbela; Sonetos, Moderna Editorial Lavores, sl, 2001;
- Bragança, António; Lições de Literatura Portuguesa, Imprensa Portuguesa, Porto, 1984.

domingo, 22 de novembro de 2009

As palavras
















São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade
Fotografia: Maremfrente

Fragmento(s)
















Maremfrente. 17.11.09.

sábado, 21 de novembro de 2009

O que não soube




















O que não soube

Que nenhum astro pousava sobre o olhar atento da sua vastidão
Que nenhuma vela em nenhum mastro enchia o vento
Que nenhuma distância trazia uma asa, media a exactidão…



Maremfrente, 17.11.09.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Era uma vez...





















Era uma vez uma casa branca nas dunas, voltada para o mar. Tinha uma porta, sete janelas e uma varanda de madeira pintada de verde. Em roda da casa havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores brancas, amarelas e rochas.
Nessa casa morava um rapazito que passava os dias a brincar na praia.
Era uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos. Mas durante a maré alta os rochedos estavam cobertos de água. Só se viam as ondas que vinham crescendo do longe até quebrarem na areia com um barulho de palmas. Mas na maré vazia as rochas apareciam cobertas de limos, de búzios, de anémonas, de lapas, de algas e ouriços. Havia possas de água, rios, caminhos, grutas, arcos, cascatas. Havia pedras de todas as cores e feitios, pequeninas e macias, polidas pelas ondas. E a água do mar era transparente e fria.




Sophia de Mello Breyner, A Menina do Mar.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Clepsidra





















“Amamos o que nunca se verá duas vezes.”

















Fotografia: Maremfrente.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Quem és tu...














Quem és tu que assim vens pela noite adiante
Pisando o luar branco dos caminhos
Sob o rumor das folhas inspiradas!

A perfeição nasce do eco dos teus passos
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas.

A história da noite é um gesto dos teus braços
O ardor do vento a tua juventude
E o teu andar é a beleza das estradas!

















No infinito sorriso das espumas
No chamar da maresia, no convite das brumas
Na exaltação de cada maré cheia
No teu ritmo de dança e bebedeira
(…)

Sophia de Mello Breynner.
Fotografia: Maremfrente.

domingo, 18 de outubro de 2009

A boca




















a boca,


onde o fogo
de um verão
muito antigo

cintila,

a boca espera

(que pode uma boca
esperar
senão outra boca?)

espera o ardor
do vento
para ser ave,

e cantar


















Eugénio de Andrade
Fotografia: Maremfrente.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Não te chamo
















Não te chamo para te conhecer
Eu quero abrir os braços e sentir-te
Como a vela de um barco sente o vento


Não te chamo para te conhecer
Conheço tudo à força de não ser


Peço-te que venhas e me dês
Um pouco de ti mesmo onde eu habite




Sophia de Mello Breyner
Fotografia: Maremfrente.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Através do teu coração















Através do teu coração passou um barco
que não pára de seguir sem ti o seu caminho





Sophia de Mello Breyner
Fotografia: Maremfrente.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Há um murmúrio















Há um murmúrio na floresta,
Há uma nuvem e não já.
Há uma nuvem e nada resta
Do murmúrio que ainda está
No ar a parecer que há.

É que a saudade faz viver,
E faz ouvir, e ainda ver,
Tudo o que foi e acabará
Antes que tenha de o esquecer
Como a floresta esquece já.



Fernando Pessoa.
Fotografia: Maremfrente.10.07.09.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Por dentro

















Sublime

Azul

No escuro

Claro






Fotografia e texto: Maremfrente. 27.07.09.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Fragmento(s)















Fotografia: Maremfrente.02.08.09.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Cortaram uma árvore




















Cortaram uma árvore
E a terra chorou

Cortaram outra árvore
E a terra chorou

E tantas árvores mais…
E a terra chorou

Chorar tanto também cansa

Quem pode enxugar as lágrimas
Da terra cansada?

Nem as mãos de uma criança…



Matilde Araújo
Imagem via net.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Forte(s)





















Forte de Santa Catarina (portão e guarita),
Praia da Vitória.





Fotografia: Maremfrente. 27.07.09.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Fragmento(s)

















Fotografia: Maremfrente. 02.08.09.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Voz que se cala















Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.

Amo a hera, que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.

Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é infinito e pequenino!

Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino
!...




Florbela Espanca
Fotografia: Maremfrente.31.07.09.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O Dia
















Passa o dia contigo
Não deixes que te desviem
Um poema emerge tão jovem tão antigo
Que nem sabes desde quando em ti vivia




Sophia de Mello Breyner
Fotografia: Maremfrente.27.07.09.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Kyrie















Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio e falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!




Ary dos Santos
Fotografia: Maremfrente.25.07.09.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Fragmento(s)

















Fotografia: Maremfrente. 12.07.09.

Mar


















Se o palpitar faz lembrança
A quem o mar enobreceu,
Vale a pedra como herança
Da alma que o mar me deu


In Ondulações, pág.127.
Fotogafia: Maremfrente. 25.07.09.

sábado, 25 de julho de 2009

Onda













Cheia de sol
Incendeia
Um abraço de brancura




Fotografia e texto: Maremfrente. 25.07.09.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Horizonte














(…)

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp’rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.



In Mensagem, pág.59.
Fotografia: Maremfrente, 24.07.09.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Hortênsias















O ontem já foi.
O amanhã poderá não vir nunca.
Há o milagre deste instante.
Vive-o. É uma dádiva.


Marie Stilkind
Fotografia: Maremfrente. 20.07.09.

Fragmento(s)















Fotografia: Maremfrente. 17.07.09.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cores

















Verde
Meu pensamento
Na tarde calma
A saber a silêncio
E a água…


In Cintilações, pág. 99.

Fotografia: Maremfrente, 16.07.09.







quinta-feira, 16 de julho de 2009

Anónima
















“Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!”




Fernando Pessoa
Fotografia: Maremfrente. 16.07.09.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Fragmento(s)

















Fotografia: Maremfrente. 12.07.09.

domingo, 12 de julho de 2009

Formar


















"Se eles deixarem de acreditar na vida, não haverá futuro."

(Augusto Cury)

Fotografia: Maremfrente. 12.07.09.

domingo, 5 de julho de 2009

Terra















A mais antiga e profunda inscrição do arquivo individual.


Fotografia e texto: Maremfrente. 04.07.09.

sábado, 4 de julho de 2009

Im pressões















De preciosa só mesmo a impressão.
De resto, um ajuntamento de borboletas.





Fotografia: Maremfrente. 30.06.09.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Impressões















Que importa o que sou quando não for. A paisagem é dos meus olhos enquanto paisagem que gera a sensação momentânea de ser minha, se desprendido e mudo souber da sua existência. Aquele desprendimento de coisa bela que está nela e não em mim que o alheamento transporta e inunda. Nada se revela sem que o revelado seja indefinido. O amor, por exemplo, tende ser infindo, mesmo que não dure. A política tem de ser comum, mesmo que divirja no modo de ser comum. E tudo isto não é intensidade. Esta é a face individual da paisagem. O definido é um misto resultado a que denomino aparência concreta. Então o definido de um indefinido que por assim ser pode ser meu ou não e ou de outro qualquer sem já meu ser. De outra forma ela seria bela enquanto a sua beleza existisse. Todas as coisas inquietas, aparentemente quietas, estão no fundo do lago e no entanto a sua beleza é um reflexo da natureza pela superfície lisa do sol.
Morre um dia devagar como o que o apressa…



Fotografia e texto: Maremfrente.