sexta-feira, 26 de junho de 2009

Fragmento(s)













Fotografia: Maremfrente. 26-06-09.

Liberdade
















Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa…

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…



Fernando Pessoa

segunda-feira, 22 de junho de 2009

As mãos

















Com as mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Entre margens














The afternoon anchored to the street of the Angels in the branches of cherry adults, because from then on no one pronounced his name. The interference would give him another.

Was of the Alameda Avenue whose passion for his river, played margin of the margin or flows into the sea in ships, brought the time of Moors.
...
On the return as the hours hit the exact doors as a metropolitan heart of the city and know the feeling exactly.

And I have no time to return sleepwalkers "other band" empty at dawn cacilheiros ...

And no one else sees it. Neither myself.

And the night is slowly lost to see it run slowly as if looking for within the time there ...



Photo and text:Maremfrente.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Lavava no rio lavava
















Lavava no rio lavava
Gelava-me o frio gelava
Quando ia ao rio lavar
Passava fome passava
Chorava também chorava
Ao ver minha mãe chorar

(...)

Já não vou ao rio lavar
Mas continuo a chorar
Já não sonho o que sonhava
Se já não lavo no rio
Porque me gela este frio
Mais do que então me gelava

(...)


Rodrigues, Amália; Versos, pág.19.

Fotografia: Maremfrente. 05.06.08.