segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Na orla do mar


Na orla do mar,
no rumor do vento,
onde esteve a linha
pura do teu rosto
ou só pensamento
(e mora, secreto,
intenso, solar,
todo o meu desejo)
aí vou colher
a rosa e a palma.
Onde a pedra é flor,
Onde o corpo é alma.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eugénio de Andrade
Fotografia: Maremfrente.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O meu olhar azul como o céu



O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta...
Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...
(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol...
Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)




Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIII"
Fotografia: Maremfrente.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Quem és tu



Quem és tu que assim vens pela noite adiante
Pisando o luar branco dos caminhos
Sob o rumor das folhas inspiradas?

A perfeição nasce do eco dos teus passos
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas

A história da noite é o gesto dos teus braços
O ardor do vento a tua juventude
E o teu andar é a beleza das estradas.




Sophia de Mello Breyner
Fotografia: Maremfrente.