segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Mostrengo




 
 
 
 
 
 
 
 
 



 

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»

 
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei Dom João Segundo!»

 
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao lema,
De El-Rei D. João Segundo!»


Fernando Pessoa, Mensagem.
Fotografia: Maremfrente, 03.10.12

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

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 03.10.12
Fotografia: Maremfrente.

domingo, 23 de setembro de 2012

Aprender a ESTUDAR

 
Estudar é muito importante
Mas pode-se estudar de várias maneiras…
Muitas vezes estudar não é só aprender
O que vem nos livros.

 Estudar não é só ler nos livros
Que há nas escolas.
É também aprender a ser livres,
Sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
Às vezes, urgente.
Mas os livros não são o bastante
Para a gente ser gente.

 É preciso aprender a escrever,
Mas também a viver,
Mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer,
Aprender a estudar.

Aprender a crescer quer dizer:
Aprender a estudar, a conhecer os outros,
A ajudar os outros,
A viver com os outros.
E quem aprende a viver com os outros
Aprende sempre a viver bem consigo próprio.
Não merecer um castigo é estudar.
Estar contente consigo é estudar.
Aprender a terra, aprender o trigo
E ter um amigo também é estudar.

Estudar também é repartir,
Também é saber dar
O que a gente soube dividir
Para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado
Sem ninguém nos ditar;
E se um erro nos for apontado
É sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro,
Ter uma cabeça que saiba pensar,
Pois, na escola da vida,
Primeiro está saber estudar.

Contar todas as papoilas de um trigal
É a mais linda conta que se pode fazer.
Dizer apenas música,
Quando se ouve um pássaro,
Pode ser a mais bela redação do mundo…

Estudar é muito
        Mas pensar é tudo!


Ary dos Santos

domingo, 13 de maio de 2012

Da personalidade dissociada
















Nunca como nestes anos da minha existência tenho vindo a compreender que a origem das neuroses, das confusões e dos sofrimentos reside no facto de possuirmos diversas componentes do próprio Eu (a física, a psicológica e a espiritual) que não se falam, que não dialogam entre si.
(…)
Creio que seria necessário manter vivas, e bem vivas, as três componentes, e fazê-las falar entre si, fazê-las dialogar em harmonia. Seria necessário não reprimir uma ou outra, não desenvolver uma em detrimento de outra, mas procurar a harmonia entre as três.

Valerio Albisetti, A Viagem da Vida.
Fotografia: Maremfrente.




sábado, 21 de abril de 2012

Da personalidade projetiva















A projeção impede a autenticidade, detém a caminhada positiva da pessoa.
A projeção impede o conhecimento do outro, não apreende a verdadeira essência do outro.
Quem vive no mundo ilusório da projeção não se confronta com a realidade. Entra num círculo de omnipotência, de delírio, sem reconhecer o próprio limite.

Valerio Albisetti, A Viagem da Vida.
Fotografia: Maremfrente.

sábado, 3 de março de 2012

Sentes, Pensas e Sabes que Pensas e Sentes

Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?

Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

(…)

Alberto Caeiro
Fografia: Maremfrente.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Flor esta

Um rumor de brisa apenas
Pintou-lhe o interior dos espaços
Traço do traço vertical
Horizontal

(e a sós sobem a ver o mar!)

Rio modesto essencial
Sem ciência e sem caudal
Natural
Onde o tempo habita
E a vista dois caminhos
A igual distância

Fotografia e texto: Maremfrente, 23.02.12

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"No tempo dividido"

A dimensão
Do que é ou não
Seria o limite


Mas o que é bonito
Ou é ilusão
Ou infinito



 Fotografia e texto: Maremfrente, 13.02.12

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Alvorecer

no ato do despertar
no ato do bem querer
renascer

o templo do tempo

o remo
o rumo
a rede…

 a pedra a água a sede...
 

 Fotografia e texto. Maremfrente. 07.02.12

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Santo e Senha


Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.

Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora

Que vai cheio de noite e solidão
Que vai ser uma estrela no chão.

Miguel Torga
Fotografia: Maremfrente.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Passagem



Ancorada a ilha
Aos filhos do vento
Só o tempo em frente
Do mar largo





Fotografia e texto: Maremfrente, 27.01.12

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

MAR

Linhas que se alinham
Almas dentro da minha

Fotografia e texto: Maremfrente, 29.12.11