quinta-feira, 4 de março de 2010

O RIO...

O RIO, SEM QUE EU QUEIRA, continua.
Espelha-se, fora de eu ser, a lua
Nas águas do meu ser independentes…
Meus pensamentos, sóbrios ou doentes
Nunca saem pra fora do meu ser.
No barco ao pé da margem, ao mover
O remador os remos, fica tudo….
A noite é clara, o coração é mudo
E a palavra que eu vou dizer, e fora,
A ser dita, a noção na alma da hora,
Passa, como um murmúrio vão do vento…
E eu, só na noite com meu pensamento
Não me distingo do que me rodeia…
E então é só real a lua cheia…


Fernando Pessoa, 30-01-1919.
Fotografia: Maremfrente.

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