terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Calma
Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
(…)
Fernando Pessoa.
Fotografia:Maremfrente.
domingo, 26 de dezembro de 2010
Fogo Preso
Céu alto da integral levitação!
Céu largo da infinita liberdade!
Ali, pairam seguras
As loucuras
Que triunfam das leis da gravidade
Ali, cintilam vidas
Abrasadas de luz universal!...
Ali, voam as aves
E as naves
Que sobem do real ao irreal…
Cega e sem asas, roda a inspiração
À volta do seu térreo pelourinho…
Ah! Céu distante, olímpica ambição
De quem no próprio chão
Não tem caminho!
Miguel Torga
Fotografia: Maremfrente, 24.12.10
domingo, 28 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Olhares
Rodeemo-nos de lagos pacíficos, luares idílicos, jardins de areia…e vivamos cada dia com os olhos na rua, porque jamais os dias mortos nos verão…
João Rodrigues
Fotografia: Maremfrente.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
domingo, 3 de outubro de 2010
(Des)acerto
Ternura em movimento,
Vamos os dois – o sol e a sombra juntos,
O futuro e o passado no presente.
O que te digo é urgente;
O que tu me respondes não tem pressa.
A minha voz acaba na vertente
Onde a tua começa
(…)
Miguel Torga
Fotografia: Maremfrente.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Devolução
Pouco importa Setembro
E seguidos pelo vento
Eis que filhos do mar fomosDevolvidos ao tempo
Onde luz água e flor
Elementos da verdade
Do tempo reunido
João Rodrigues
Fotografia: Maremfrente.
Pérola
No lago dos lírios
Onde a chuva chora em arco-íris
O dia tem brilhos a lua filhosQue não respires o pó dos trigos
Abraça-me o vento
Que há um corpo amanhecido
Atrás do tempo
João Rodrigues
Fotografia: Maremfrente.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Em nome de ti
À água unimos nossas mãos
E as ondas repetindo os nomes
Mais humanos não fomosColher algas
Colher flores
Palavras ditas na areia
Quando só fica a maré cheia
Rostos
Que aproximam os desvios e
Correm como rios
Que o que na vida viva
Sejam as palavras os ninhos
E sobre as palavras os gestos
Sem mãos com que medimos
João Rodrigues
Fotografia: Maremfrente, 22.08.10
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
Vindima
Mosto, descantes e um rumor de passos
Na terra recalcada dos vinhedos.
Um fermentar de forças e cansaços
Em altas confidências e segredos.
Laivos de sangue nos poentes baços.
Doçura quente em corações azedos.
E, sobretudo, pés, olhos e braços
Alegres como peças de brinquedos.
Fim de parto ou de vida, ninguém sabe
A medida precisa que lhe cabe
No tempo, na alegria e na tristeza.
Rasguem-se os véus do sonho e da desgraça.
Ergue-se em cheio a taça
À própria confusão da natureza.
Miguel Torga
Fotografia: Maremfrente.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Não sei se é sonho...
Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri
Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter
Felizes, nós? Ali, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez,
Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar;
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar
Ah, nesta terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.
Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.
Fernando Pessoa
terça-feira, 20 de julho de 2010
Quem sonha mais?
Quem sonha mais, vais-me dizer -
Aquele que vê o mundo acertado
Ou o que em sonhos se foi perder?
O que é verdadeiro? O que mais será -
A mentira que há na realidade
Ou a mentira que em sonhos está?
Quem está da verdade mais distanciado -
Aquele que em sombra vê a verdade
Ou o que vê o sonho iluminado?
A pessoa que é um bom conviva, ou esta?
A que se sente um estranho na festa?
Alexander Search, in Poesia.
domingo, 18 de julho de 2010
Da Realidade
Que renda fez a tarde no jardim,
Que há cedros que parecem de enxoval?
Como é difícil ver o natural
Quando a hora não quer!
Ah! Não digas que não ao que os teus olhos
Colham nos dias de irrealidade.
Tudo então é verdade,
Toda a rama parece
Um tecido que tece
A eternidade.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Flor do Mar
És da origem do mar, vens do secreto,
do estranho mar espumoso e frio
que põe rede de sonhos ao navio
e o deixa balouçar, na vaga, inquieto.
Possuis do mar o deslumbrante afecto,
as dormências nervosas e o sombrio
e torvo aspecto aterrador, bravio
das ondas no atro e proceloso aspecto.
Num fundo ideal de púrpuras e rosas
surges das águas mucilaginosas
como a lua entre a névoa dos espaços...
Trazes na carne o eflorescer das vinhas,
auroras, virgens músicas marinhas,
acres aromas de algas e sargaços...
Cruz e Sousa
Imagem: downloads.open4group.com
terça-feira, 1 de junho de 2010
Frente a frente
Nada podeis contra o amor,
contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,contra a luz, nada podeis.
Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!
Eugénio de Andrade
Fotografia: Maremfrente.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
A Fonte
Com voz nascente a fonte nos convida
A renascermos incessantemente
Na luz do antigo sol nu e recenteE no sussurro da noite primitiva.
Sophia de Mello Breyner
Fotografia: Maremfrente.
domingo, 11 de abril de 2010
Olhos postos...
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás as mãos de quem te espera.
Eugénio de Andrade
Fotografia: Maremfrente.
domingo, 4 de abril de 2010
sábado, 3 de abril de 2010
Não digas nada!
Não digas nada!
Não, nem a verdade!
Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver…
Não digas nada!
(...)
Fernando Pessoa
Fotografia: Maremfrente.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
segunda-feira, 29 de março de 2010
Entre margens
A neve pôs uma toalha calada sobre tudo.
Não se sente senão o que se passa dentro de casa.
Embrulho-me num cobertor e não penso sequer em pensar. Sinto um gozo de animal e vagamente penso,
E adormeço sem menos utilidade que todas as acções do mundo.
Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos
MAS da letargia a promessa
Quer durmamos ou tão só esqueçamos
Nasce do olhar e dos ramos A primavera começa acordamos
Fotografia e texto: Maremfrente.
quarta-feira, 24 de março de 2010
O relógio
Pára-me um tempo por dentro
Passa-me um tempo por fora.
O tempo que foi constante
No meu contratempo estar
Passa-me agora adiante
Como se fosse parar.
Por cada relógio certo
No tempo que sou agora
Há um tempo descoberto
No tempo que se demora.
Fica-me o tempo por dentro
Passa-me o tempo por fora.
Ary dos Santos
terça-feira, 9 de março de 2010
quinta-feira, 4 de março de 2010
O RIO...
O RIO, SEM QUE EU QUEIRA, continua.
Espelha-se, fora de eu ser, a lua
Nas águas do meu ser independentes…
Meus pensamentos, sóbrios ou doentes
Nunca saem pra fora do meu ser.
No barco ao pé da margem, ao mover
O remador os remos, fica tudo….
A noite é clara, o coração é mudo
E a palavra que eu vou dizer, e fora,
A ser dita, a noção na alma da hora,
Passa, como um murmúrio vão do vento…
E eu, só na noite com meu pensamento
Não me distingo do que me rodeia…
domingo, 14 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Bebido o luar...
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montesE todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.
Sophia de Mello Breyner
Fotografia: Maremfrente.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Na orla do mar
Na orla do mar,
no rumor do vento,
onde esteve a linhapura do teu rosto
ou só pensamento
(e mora, secreto,
intenso, solar,
todo o meu desejo)
aí vou colher
a rosa e a palma.
Onde a pedra é flor,
Onde o corpo é alma.
Eugénio de Andrade
Fotografia: Maremfrente.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
O meu olhar azul como o céu
O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta...
Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...
(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol...
Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIII"
Fotografia: Maremfrente.
Fotografia: Maremfrente.
domingo, 3 de janeiro de 2010
Quem és tu
Quem és tu que assim vens pela noite adiante
Pisando o luar branco dos caminhos
Sob o rumor das folhas inspiradas?
A perfeição nasce do eco dos teus passos
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas
A história da noite é o gesto dos teus braços
O ardor do vento a tua juventude
E o teu andar é a beleza das estradas.
Sophia de Mello Breyner
Fotografia: Maremfrente.
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